Sobre

Cresci a querer ser fotógrafa da National Geographic, uma bióloga naturalista como David Attenborough, mergulhadora e oceanógrafa nas águas do Pacífico ou uma intrépida exploradora na floresta Amazónica. Sempre perdida no meio de livros, a desenhar e a criar personagens. Não sei como é que mais tarde o direito entrou na minha vida. Mas sei que não foi pela aridez dos articulados, pelo cheiro a medo e desespero das salas de tribunais nem pela negritude da toga.

Há alguns anos, num recomeço de vida,  tive uma epifania e parei para voltar ao que eu era antes de o mundo me ter dito o que devia ser. Entrelacei as mãos com a arte, a fotografia, o acordar com a primeira luz do dia, conquistar montanhas, conhecer cada flor pelo primeiro nome e viver tão devagar que o tempo não me consiga apanhar e, claro, a embrenhar-me no mundo ou, numa linguagem mais prosaica, viajar.

Cresci em França, estudei e vivi em Portugal e atualmente vivo num pequeno monte na Suíça alemã. A minha definição de casa e de mundo não é provavelmente a mais comum. Tem contornos menos definidos, mais esboroados. Respirar o ar rarefeito no topo de uma montanha, partilhar um chá com um local numa aldeia do Butão, nadar num lago gelado alpino, conduzir um jipe pela savana africana enquanto o sol se põe numa explosão de laranjas e vermelhos ainda por inventar, passar os dedos por uma roda de oração no Tibete ou rodopiar num campo de flores na Provence é, ao mesmo tempo, casa e mundo.

Entretanto, as viagens, e o meu mundo, encheram-se de luz desde que passei a viajar com uma mão pequenina na minha, naquilo a que chamo viajar em modo Magn(o)ífico. O Magno, e o seu espírito explorador, mente curiosa e grandes doses de coragem condensadas num metro e picos veio mostrar-me que as viagens têm uma quarta dimensão. A das pessoas que as partilham connosco.

Hoje, sou finalmente a autora da minha própria história. E por aqui encontram alguns dos capítulos desse livro escrito ao correr da pena e das personagens que moram em mim. Ou eu é que moro nelas, nunca sei. E, claro do mundo. Ou casa. Também nunca sei.

Susana do Vale