A Islândia não é um país qualquer. Ao fim de quase uma centena de países já não se esperam muitas surpresas pelo mundo e muito menos na Europa. Mas depois, bem, depois aparece-nos um país com o tamanho de Portugal e ousadamente instalado sobre duas placas tectónicas, um país em que a maior parte da população acredita piamente em elfos, fadas, gnomos e outras figuras míticas, com uma paisagem que parece retirada do período jurássico, geiseres a jorrar a cada 5 minutos, quilómetros sem fim de campos de lava, baleias gigantes que se avistam sem esforço a partir da praia, cavernas irreais feitas de gelo, paisagens lunares e logo a seguir paisagens verdejantes, piscinas naturais de água quente, praias atapetadas com icebergs, cascatas de todos os tamanhos, vulcões ainda a fumegar, cheiro a flores intervalado com cheiro a ovos podres e um povo, bem, um povo tão destemido que só podia ser descendente de Vikings.
Os islandeses são um povo intrigante. Em 2010 conseguiram parar o tráfego aéreo em boa parte da Europa com uma pequena erupção vulcânica e puseram o mundo inteiro a tentar pronunciar o nome do impronunciável vulcão Eyjafjallajökull.
E que povo é este que vive uma crise económica bem complicada em 2008 e sai dela em dois tempos com estratégias completamente diferentes das adotadas por outros países?! Atualmente crescem a um confortável ritmo de 3% ao ano, o desemprego ronda os 4% e o turismo nos últimos 3 anos aumenta a uns estonteantes 15% a 20% ao ano.
Um povo que até Agosto tinha um presidente com nome de guerreiro Viking, Olafur Ragnar, e que tem um atual presidente que ao receber um incremento salarial mensal equivalente a cerca de 5000€, resolve doá-los a instituições de caridade.
Quando questionado sobre a que instituições iria doar este dinheiro, Gudni Johannesson respondeu lapidarmente “não sou nenhuma Madre Teresa. Não me quero gabar sobre estas coisas”. E subitamente, um pequeno país com 300.000 humanos, 800.000 ovelhas e 90.000 cavalos restaura-nos a fé na humanidade.
Quando comecei a escrever só queria deixar algumas dicas úteis para quem se vai aventurar no país nos próximos tempos, mas entusiasmei-me… mas cá vai o que realmente interessa: quando decidimos fazer a “ring road”, a famosa road trip que, tal como o nome indica, circunda toda a ilha ao longo de cerca de 1300Km, surgiram muitas dúvidas que infelizmente não foram esclarecidas quando pesquisámos o tema. Há muita informação errada e desatualizada na internet e por isso acho que nada como deixar aqui alguma informação testada e que nos tinha dado muito jeito encontrar antes de partirmos em viagem.
Quando ir?
Ir na Primavera/ Verão ou Outono/Inverno? Para quem quer ver auroras boreais, não gosta de multidões e prefere pagar menos em alojamento e aluguer de veículos a época baixa é a melhor opção.
Quem preferir tempo mais quente e dias maiores a época alta será mais apelativa. Pessoalmente prefiro o Outono, em concreto setembro e outubro, apesar de ainda assim os turistas que encontrámos serem bem mais do que o esperado para a época.
Quanto tempo é necessário para ver o país?
A ring road exige um mínimo de 10 dias para ser apreciada na sua plenitude e para conseguir fazer alguns desvios. Nós fizemos o percurso em 10 dias e com os desvios os 1300Km transformaram-se em 2000Km.
A nossa segunda ring road foi feita em quase duas semanas porque optámos por fazer mais desvios e fomos às highlands.
E é tão caro como dizem?
É pior. A Islândia é efetivamente um país muito caro. Estabeleçam um orçamento diário mas contem com mais 25% sobre os vossos planos. O alojamento, a alimentação e o aluguer de veículos têm preços muito superiores ao normal.
Aconselho vivamente a marcarem tudo o que conseguirem com uma confortável antecedência de 3 meses. Quanto à alimentação apostem no self-catering em supermercados como o Bonus, Netto e o Kronan, os mais baratos do país. As boas notícias são que praticamente tudo o que há depois a visitar no país é grátis.
Alojamento em hotéis e visitar o país de carro ou alugar uma casa com rodas?
Se estiverem na dúvida entre ficarem alojados em hotéis ou optar por uma autocaravana ou van, não hesitem mais, uma casa com rodas, apesar do valor por dia parecer excessivo no início, acaba por ficar bem mais barato no final das contas.
Isto para além da liberdade de movimentação, possibilidade de cozinhar no veículo e maior facilidade em ver auroras boreais por estarem sempre nas condições ideais para as ver, à noite no meio do nada. Há inúmeras empresas de aluguer de vans e autocaravanas mas o airbnb também é uma boa opção.
Optando pela van/autocaravana é necessário dormir em campings?
Não era mas desde 2017 existe legislação nesse sentido. Mas o que nos foi dito na empresa de aluguer de caravanas foi que desde que não esteja sinalizado que é proibido e não seja terreno privado é possível pernoitar.
Diria que nas nossas três viagens à Islândia dormimos a maioria das noites fora de campings.
Onde tomar banho viajando numa van?
O país está pejado de termas e piscinas naturais. Umas grátis outras não. As mais bonitas são a piscina de Seljavallalaug, provavelmente a mais antiga do país, a lagoa secreta perto da aldeia de Flúðir e as fantásticas nascentes quentes de Reykjadalur valley e uma das nossas favoritas, a fissura termal de Grjótagjá, onde foi filmada a cena mítica entre Jon Snow e Igrytte, de Game of Thrones.
Costumamos também tomar banho nas piscinas municipais das vilas e aldeias. O bilhete é barato e pode-se ir logo direto aos balneários tomar banho.
É um bom sítio para levar crianças?
Quem segue o blog há algum tempo sabe que para nós não existem muitos sítios que não sejam bons para levar crianças mas, no caso da ring road da Islândia, em vez dos 10 dias recomendados para a fazer, eu aconselharia mais dois dias para acompanhar o ritmo mais lento que uma longa viagem de carro com crianças exige.
De resto, qual é a criança que não gosta de brincar em crateras de vulcões, campos de lava, chapinhar em cascatas e nadar em águas termais quentinhas?
Como evitar as multidões?
Não é fácil. A Islândia está na moda e mesmo com tempo frio ainda há, para mim, demasiada gente. Natureza e multidões não combinam. A parte mais problemática é a zona do golden circle (Pingvellir, geysers de Haukadalur, cascata de Gullfoss, cratera de Kerio) e aí convém evitar as horas entre as 10 da manhã e as 15 horas.
O melhor é começar as visitas muito, muito cedo e aproveitar para conduzir e descansar durante as horas críticas antes de voltar aos locais mais turísticos.
Como é a alimentação?
Este é um tema sagrado para um português… bem, as notícias não são as melhores, a comida nos restaurantes é muito parecida com a americana, com muitos fritos e fast food. Se virem uma fila à porta de um estabelecimento é muito provável que seja para comer cachorros quentes.
Para vegetarianos, como eu, há muito poucas opções para além de hambúrguer vegetariano e pizza e fica mais fácil e saudável abastecer em supermercados e cozinhar. No entanto, o restaurante Gló, o Veganae e o Tokyo em Reykjavik, são uma opção muito recomendável.
E como é fotografar na Islândia?
Não é por acaso que é considerado o paraíso dos fotógrafos. Qualquer pessoa e qualquer máquina fotográfica tiram boas fotos na Islândia.
Tem uma luz perfeita e parece que foi instalado sobre o país um programa de Adobe Photoshop ou Lightroom. É melhor levar baterias e cartões de memória extra porque dificilmente se consegue conduzir 5 minutos sem parar para fotografar.
Que roupa levar?
Levem um pouco de tudo. Mesmo no verão levem um casaco de penas leve, gorro, um impermeável, calçado à prova de água, e roupa de várias espessuras para usar em camadas. Como se costuma dizer na Islândia, “se não gostas do tempo que faz espera meia hora”.
Quem ficou com vontade de ir até à Islândia?
Já nos seguem no seguem no Indtagram do Mundo Magno ?
Nota: Nos próximos dias sairá um guia detalhado para fazer a Ring Road. Entretanto podem ler o nosso roteiro de 5 dias
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