Estamos a pouco mais de uma semana de partir para a Índia e para o Butão e já entrámos em estágio, chamemos-lhe assim. Mas também lhe podemos chamar de “tratar dos vistos para a Índia”. Nada como iniciar o processo de pedido de visto para sentir um cheirinho a caril… Suspiro.
Quando há alguns anos fomos à Índia o processo era relativamente simples. Mas agora, como que a testar a capacidade para aguentar a viagem, a paciência é levada aos limites ainda antes de se entrar no país.
Começa tudo com um formulário de 4 páginas que se preenche online e que tem perguntas tão medievais como: tem tatuagens? Qual é a sua religião? (sendo que nenhuma, agnóstica ou ateísmo não são opção); para onde viajou nos últimos 10 anos!!!??
Identifique uma pessoa para dar referências suas na Índia e na Suíça. E por aí fora… Se conseguirmos aguentar a inquisição, somos finalmente brindados com a possibilidade de imprimir o formulário e juntar uma parafernália de cópias e bilhetes de avião. Depois de termos passado uma hora a preencher os formulários para os três, hoje de manhã, agarrei no Magno e fomos os dois até Genève ao Consulado da Índia naquilo que se afigurava pouco mais do que um pequeno passeio. Estou a brincar. Já sabia que se metia Índia no nome não ia ser “um passeio no parque”.
Só a 1,5 Km de distância do Consulado encontrei um parque de estacionamento e, como não levei carrinho de passeio (tonta, eu sei) lá tive de levar o Magnífico ao colo. Muuuiiito tempo depois lá chegámos ao Consulado entre o semi congelados e esbaforidos e, depois de uma longa espera, o senhor no atendimento disse-nos que, “désolé”, mas a receção de pedidos de visto agora funciona na rua x, porta y e z. Eu olho para ele, e com a minha melhor “resting bitch face”, pergunto-lhe: bem, assim sendo, porque não mudaram a morada na página do Consulado? Levei com um encolher de cabeça indian mode.
Perguntei-lhe ainda como pode a nova morada estar no n.º 40 e n.º 1086 ao mesmo tempo? Recebo um novo abanar de cabeça indiano.
Terminámos a conversa com uma dança à Bollywood e fui à minha vida. Pronto, nesta última parte talvez esteja a exagerar, vá.
Depois de cinco paragens de emergência para que o Magno comesse bolachas e três tentativas e erro depois, lá demos com a bendita secção do Consulado. Entregámos a documentação e, depois de me pedirem cerca de 100€ para me enviarem os vistos pelo correio, achei que se calhar eu até estava a exagerar e isto era um passeio giro para se voltar a fazer daí a uns dias e que, assim sendo, voltaríamos lá para os ir buscar.
Neste meio tempo o Magno já tinha conseguido desmontar e montar de novo a máquina dispensadora de água e tinha já inutilizado o stock de copos de papel para um mês. Também neste meio tempo tinha começado a nevar mas daquela neve que é meio gelo, meio neve. Que molha, portanto. E sim, adivinharam, não tinha levado chapéu de chuva. Um Km, 6 bolachas e muito ácido lácteo nos meus braços depois, chegámos ao carro e conseguimos sobreviver à tempestade de neve de volta a casa.
E era isto. Bom dia e obrigada.
Não era nada. Isto faz parte da viagem e a Embaixada Indiana tem todo o direito de exigir o que quiser a quem entra no seu país. Eu é que não resisto a uma boa caricatura 🙂
A Índia consegue ser, ao mesmo tempo, um dos países mais difíceis para se viajar mas também um dos que mais vale a pena. É estranho, eu sei. Mas a Índia é mesmo assim e, para além das paisagens surreais que lá se encontram, vale também pelas dificuldades, pelo caricato e pelo absurdo que a todo o momento se cruzam connosco. É um país antagónico, desesperante e tranquilo, imundo e puro, barulhento mas com muitos oásis de paz, colorido mas com um Ganges pardacento. Não acho que algum dia vá entender a Índia e os indianos, mas é esse desnorteio que me faz querer sempre voltar lá. À viagem de todas as viagens.