Há quem diga que não pode viver sem a praia. Mas por aqui o fascínio é apenas por aquilo que está debaixo de água… nas profundezas do oceano a mergulhar.
Tirando isso eu sou da montanha. Sou da altitude, do ar rarefeito, do inóspito, do agreste. E não é por isso de admirar que as montanhas sejam uma presença constante na vida do Magno e ele se refira aos Alpes como as “minhas montanhas” e conheça todos os cantos a Chamonix.
Pensa-se que a presença humana em Chamonix começou em 1091 quando uma ordem de monges ali chegou, gostou das vistas e ficou. Durante séculos viveram-se tempos de tranquilidade no vale. Muito poucos ousavam viver em condições tão agrestes e Chamonix era um segredo bem guardado pelos monges que se deviam divertir à grande a escalar a face norte dos Drus, a saltar do Brevent de parapente e a esquiar nos Grands Montets.
No entanto, em 1741 tudo mudou quando dois ingleses de visita a Genebra, entediados pela escassa vida social da cidade, ouviram falar de uma aldeia rodeada de glaciares e montanhas e, como estavam com muito tempo livre nas mãos, resolveram partir à aventura. Gostaram tanto do que viram que, conjugado com uma grande dificuldade em guardar segredos, espalharam a boa nova aos sete ventos e na década de 1770 já cerca de 1500 pessoas visitavam o vale a cada ano.
Os habitantes viram ali uma oportunidade de ouro e em pouco tempo os pastores e agricultores foram promovidos a guias de montanha e líderes de expedição aos glaciares e cumes (com o Mont-Blanc a ser subido pela primeira vez em 1786) e com o vale a transformar-se rapidamente naquilo que é hoje, o parque de diversões de quem gosta de desportos de montanha.
E é graças a tudo isto que que hoje em Chamonix há de tudo para todos os gostos e todos os níveis. Ski, parapente, escalada, base jump, vias ferratas, caminhadas, glaciares, ciclismo de montanha, trail running, rafting, canyoning, etc…
Chamonix tem uma população residente de cerca de 10000 pessoas e com uns incríveis 2,5 milhões de visitantes por ano é o 3.º sítio natural mais visitado do mundo. E como a zona de Chamonix é de longe o sítio onde mais me pedem dicas, conselhos e sítios a não perder, cá vai o meu top 13 por ordem completamente aleatória:
1- Apanhar o comboio que parte da cidade até ao Montenvers e visitar o Mer de Glace a 1913 metros de altitude antes que desapareça nos próximos anos. É o maior glaciar em França mas a cada ano que passa a língua de gelo está cada vez mais pequena.
Para além das vistas fantásticas para os Drus e Grand Jorasses, é possível visitar a caverna de gelo, o museu de cristais e, para os mais experientes, colocar os crampons e descer ao glaciar e caminhar por entre as crevasses.
2- Subir de teleférico até aos 3842 metros da Aiguille du Midi (só é permitido a crianças com mais de 3 anos). Para além das vistas de cortar a respiração a grande atração é o “step into the void”. Basicamente uma caixa de vidro suspensa no abismo onde se entra e se fica virtualmente suspenso no vazio.
3- O lago dos Gaillands à saída de Chamonix. Um pequeno tesouro que tem escapado aos turistas. Além das vistas para o maciço do Mont-Blanc tem um pequeno bosque em frente ideal para um passeio ou um piquenique e uma parede de escalada com vias acessíveis a iniciados.
4- A feira de sábado de manhã em Chamonix. É frequentada praticamente só por locais e é um paraíso de frutas frescas, pizzas caseiras, produtos tradicionais da região e artesanato.
5- O glaciar dos Bossons. Dos 40 glaciares da região este é talvez o mais fácil de aceder. No Verão é possível usar as telecadeiras para chegar ao “view point” sem qualquer esforço. É ainda possível lá chegar com uma caminhada de uma hora pela floresta.
Já fomos das duas formas e vale mesmo muito a pena. Dali, para os mais ousados, é possível continuar a subir durante 4 horas até à Jonction, o local onde os glaciares Bossons e o Taconnaz ainda são um só.
6- As compras de roupa e material de montanha. Praticamente todas as marcas mundiais estão representadas em Chamonix e é muito fácil uma pessoa se desgraçar em compras. As minhas lojas favoritas na cidade são a Snell, a Comptoir des Montagnes e a Technique Extrême.
7- A aldeia de Agentière e o glaciar com o mesmo nome. Se no Inverno não houver neve na cidade de Chamonix é quase certo que em Argentière encontram. É dali que parte o teleférico que dá início a uma série de caminhadas em volta do glaciar e algumas delas fáceis de fazer com crianças.
8- As gaufres/ waffles de Chamonix. Mas não todas. As melhores são as de uma pequena barraca de madeira que só abre da parte da tarde (das 14.00 às 18:00) e que fica perto da praça da feira ao lado da loja de congelados Picard. A receita da massa é um segredo de família que foi passada ao Jean Pierre pela tia. Mas como se não bastasse a excelência da massa o creme de limão caseiro é qualquer coisa do outro mundo. Valem cada cêntimo dos 3,00€ que custam.
9- As caminhadas no maciço são qualquer coisa de único. São centenas de quilómetros e percursos possíveis para todos os níveis e condições físicas e, entre Maio e Outubro, franceses e turistas partilham alegremente os caminhos.
As minhas caminhadas favoritas até agora são a do Lac Blanc; a do Lac Chesery (dá para fazer isolado ou juntar ao do Lac Blanc); a do Plan de L´ Aiguille até Montenvers; Lac Cornu e Lacs Noirs; Flégère até Planpraz. Todas estas caminhadas já foram testadas por nós com uma criança pequena e aprovadas.
10- O Mont-Blanc. Tudo gira à volta do maior cume da Europa Ocidental e dos seus imponentes 4808,72 metros. É difícil de avistar de Chamonix (as pessoas normalmente estão a ver o Mont Maudit e pensam que é o Mont Blanc). Vê-se melhor nas aldeias à volta da cidade.
Cerca de 20.000 pessoas sobem o monte por ano e apesar de não ser uma ascensão tecnicamente difícil exige ainda assim experiência, preparação e material adequado. Só este ano 24 pessoas perderam a vida ao tentar concluir a ascensão. Um ano negro que tem levado alguns autarcas do vale a ponderar avançar com restrições à subida.
11- Esquiar em Chamonix. O forfait não é barato (mais de 50€ por dia) mas a qualidade das pistas e as vistas não têm preço. Quem tiver mais dias para gastar aconselho vivamente ir até às zonas vizinhas de Megève e Saint Gervais.
12- Esquiar a Vallée Blanche. Esta pista de ski, segundo dizem, a maior do mundo com os seus 20Km e uma descida vertical de 2700 metros, merece uma categoria à parte. Começa na Aiguille du Midi e termina na cidade de Chamonix. É apenas recomendada para esquiadores de nível avançado e deve ser feita com um guia visto existir risco de queda em crevasses, queda de seracs e avalanches.
13- O Parque Merlet. O parque em si não é nada de especial mas as vistas sim. Tem o restaurante/bar com as melhores vistas do mundo a mais de 2000 metros de altitude e mesmo em frente ao Mont-Blanc. Está aberto na primavera e Verão. No Inverno só com marcação e acesso com guia de montanha.
Dicas:
– A melhor forma de chegar a Chamonix é através do aeroporto de Genebra que fica a cerca de uma hora. Encontra-se facilmente voos de ida e volta Portugal/ Genebra por menos 100€ e depois é só apanhar um dos muitos autocarros que fazem a ligação a partir do aeroporto;
– O autocarro elétrico que anda pela cidade é gratuito e dá muito jeito visto o centro da cidade não estar acessível a carros;
– Aprender a dizer Chamonix corretamente para impressionar os locais: Chamonix com o X mudo.
– A página La Chamoniarde é muito útil e tem as informações mais atualizadas e fiáveis incluindo as meteorológicas: https://www.chamoniarde.com
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