Existem muito poucos sítios (quase) inexplorados na Europa. E quando pensávamos que já estava tudo visto e revisto aqui pelo velho continente apareceu-nos uma boa surpresa, ali bem escondidinha no mar do Norte, as Ilhas Faroé.
Como aparentemente não existem guias de viagem para as ilhas (nós não encontrámos) aqui fica o nosso roteiro de uma semana num dos sítios mais remotos e mais bonitos de sempre.
Dia 1 – Sørvagsvatn (Leitisvatn) e Gásadalur
Na ilha de Vágar, a ilha onde se situa o aeroporto, fica uma das imagens mais icónicas das Faroé, o lago Sørvagsvatn (Leitisvatn). Sim, o famoso lago sobre o mar podem ler mais sobre o lago aqui
Há duas formas de fazer a caminhada de 3 km até ao lago. A mais usada é a que segue mesmo junto ao lago e começa pouco antes da entrada para a aldeia de Midvagur, junto a um pequeno parque de estacionamento em terra batida.
A segunda opção, a que escolhemos, segue mais por cima e é provavelmente um pouco mais fácil, desde logo porque o terreno é menos enlameado e vai mais a direito até Trælanípa, o cimo do penhasco de onde se consegue avistar o lago sobre o mar. Para encontrar o início do trilho é necessário entrar na aldeia de Midvagur e seguir pelo caminho junto da igreja. Passados cerca de 700 metros a estrada acaba num estacionamento e começa aí a caminhada.
Outra das paisagens mais famosas das Faroé é a cascata da aldeia de Gásadalur, a Múlafossur. Até à construção do túnel, em 2006, quem quisesse visitar a aldeia tinha de fazer uma caminhada de 4 km e, devido a esse isolamento, a aldeia ficou quase deserta.
Agora bastam 15 minutos a partir do aeroporto e 100 metros a pé para chegar ao paraíso. A caminho de Gásadalur parem na aldeia de Bour com os seus telhados de relva e vistas para as ilhas de Tindhólmur e Drangarnir.
Dia 2 – Kirkjubour, Velbaðstaður, Nordadalur, Sornfelli, Saksun
A partir da capital, Tórshavn, são 10 minutos até à aldeia histórica de Kirjubøur com as suas pequenas casas pretas com janelas vermelhas. De seguida vale a pena passar por Velbaðstaður, Norðadalur e Sornfelli para apreciar as vistas.
É depois tempo de seguir para um dos meus locais favoritos, Saksun. E este é um daqueles locais em que o próprio caminho até lá é de cortar a respiração.
Em Saksun há um pequeno trilho que leva até à praia. No entanto, e antes de meter os pés ao caminho, convém verificar a tabela de marés que está afixada à entrada da aldeia pois na maré alta a praia desaparece.
Dia 3 – Ilha de Mykines
É possível chegar à ilha de helicóptero (a partir do aeroporto) ou de ferry (a partir de Sorvagur) e o preço é similar. Convém no entanto reservar com algumas semanas de antecedência porque os lugares são limitados. No caso de escolherem ir de helicóptero, o regresso terá de ser feito de ferry, ou vice-versa. Por qualquer motivo que me escapa a Atlantic Airways só deixa voar para um dos lados no mesmo dia.
A ilha é famosa por ter uma enorme comunidade de Puffins a viver na ilha de meados de Abril até Setembro e, por isso, são eles o grande motivo da visita.
Dia 4 – Mjauvatn, Leynavatn, Leynar, Skælingur, Kvívík, Vestmanna
A caminho do túnel que passa por baixo do mar na ilha de Vagar (existem 2 túneis debaixo do mar nas Faroé. Estes túneis têm as únicas portagens das ilhas e é preciso parar para pagar na pequena área de serviço alguns quilómetros depois do túnel. Não é muito prático mas menos mal que só se paga à ida) existem três lagos que merecem uma visita.
O primeiro é o maior, em Leynavatn e os outros dois, mais pequenos, estão em Mjauvatn. Um destes dois últimos é absolutamente magnífico com a sua cascata e a pequena casa em frente.
As aldeias de Leynar e Skælingur merecem uma pequena paragem pelas vistas a partir da praia. E o mesmo se diga de Kvívík e Vestmanna. No caminho entre estas duas aldeias, do lado esquerdo, irão aparecer estas duas cabanas em baixo. Não dá vontade de ficar a viver aqui?! Pois dá. E se quiserem até podem porque é possível aluga-las.
Dia 5 – Fossa, Tjornuvik, Eidiskard, Slættaratindur, Funningur, Gjogv
A caminho deTjørnuvík, cerca de 40 minutos da capital, é impossível não ver a maior cascata das Faroé, a Fossá. Há um pequeno parque de estacionamento e um mapa a explicar como se vai até ao segundo anel da cascata. Vale muito a pena! Se puderem, visitem a cascata depois de uma grande chuvada para que o caudal seja maior.
Tjørnuvík merece uma visita à sua praia de areia preta. Se gostarem de surf este é o melhor local das ilhas para a prática.
É tempo de seguir caminho até Slættaratindur com uma pequena paragem em Eidiskard. Slættaratindur é o ponto mais elevado das Faroé. A caminhada até ao topo é bastante fácil e demora cerca de uma hora.
Ao descer o vale, já de carro, vale a pena encostar para apreciar as vistas do Funningur Fjord antes de continuar caminho até à minha segunda aldeia favorita, Gjogv. Depois de estacionar o carro é só seguir o trilho junto à falésia para ter uma visão mais aérea da aldeia.
Regressámos depois à capital ainda a tempo de visitar o centro, a parte mais antiga com as casas com telhado relvado e jantar no Etika, o único restaurante asiático de fusão nas ilhas. Mais curiosidades sobre as Faroé aqui.
Dia 6 – Klaksvik, Mount Klakkur, Kunoy, Hvannasund, Veidardi
E chegou finalmente o dia de ir até às ilhas mais distantes do arquipélago e passar o dia a ver cascatas, pequenas aldeias pitorescas e a fazer caminhadas.
É necessário atravessar vários túneis para chegar a estas ilhas incluindo alguns bem antigos. Estes túneis têm apenas uma faixa e é necessário encostar nuns nichos na rocha para deixar passar os carros em sentido contrário quando não é a nossa vez de ter prioridade. Um pouco estranho no início mas acabamos por nos habituar.
A subida ao monte Klakkur leva apenas meia hora mas as vistas da ilha Kunoy ficam para sempre na memória.
Na ilha de Bordoy vale a pena deambular pela aldeia de Hvannasund.
Um túnel sombrio depois e chega-se à aldeia de Veidardi com mais uma coleção de ovelhas, cascatas e igrejas com telhado de relva.
Dia 7 – Drangarnir e Tindhólmur island
Para conseguir ver estas ilhas de perto é necessário fazer uma caminhada de 3 horas para cada lado. Mas a boa notícia é que é uma caminhada quase sempre plana.
É preciso ir até à aldeia de Sørvágur na ilha de Vágar, a mesma onde se apanha o ferry para Mikynes, e ir junto à costa até avistar um farol e aí começar a subir até esse farol.
Acabámos por não conseguir fazer esta caminhada porque chovia muito e não dava para arriscar uma caminhada tão demorada com uma criança pequena. Mas deixo aqui a dica para quem tiver oportunidade porque para nós terá de ficar para outra visita.
Neste dia optámos por voltar a visitar e fotografar alguns dos sítios que mais gostámos.
Nota: Por falta de tempo, e com muita pena nossa, não conseguimos visitar a ilha de Kalsoy e o seu farol, o Kallur. Para lá chegar é preciso apanhar um ferry de 20 minutos em Klaksvík. Se conseguirem vão até lá e contem-nos como foi. Deve ser muito, muito bonito.
Dicas
1 – Melhor altura para visitar – Apesar de, estranhamente, o Inverno não ser muito rigoroso, como as Faroé ficam perto do círculo polar ártico, há poucas horas de luz nessa época do ano. A melhor altura é por isso de meados de Maio a meados de Setembro, quando os dias são mais quentes e o sol não se põe. Fomos a meio de Maio e só ficava de noite da meia-noite às duas da manhã.
2 – Como chegar – As melhores opções de voos e barcos partem da Escandinávia ou de Edimburgo. No nosso caso optámos por apanhar um voo em Copenhaga e assim conjugar a viagem com uns dias na cidade.
3 – O que levar – No Inverno a temperatura média ronda os 3.ºC e no Verão os 12.ºC. E a temperatura mais elevada alguma vez registada nas ilhas foi de uns amenos 22.ºC. Ou seja, nunca está demasiado frio mas também dificilmente estará quente.
E como o tempo muda praticamente de hora a hora entre chuva, vento, sol e nevoeiro é mesmo preciso levar um corta-vento, um casaco mais grosso e calçado à prova de água para as caminhadas. Convém ainda levar uma garrafa para encher com água, pelo ambiente mas também porque a água das Faroé é considerada a melhor água do mundo. Toda a água por lá é potável.
4 – Como visitar as ilhas – decididamente o melhor é alugar um carro. É conveniente alugar com alguns meses de antecedência porque a oferta não é muita e esgotam depressa.
5 – Onde comer – O melhor restaurante das ilhas é o KOKS, provavelmente o único estrela Michelin com um acesso de terra batida, mas não o experimentámos porque é necessário fazer reserva com algum tempo de antecedência. No entanto experimentámos e adorámos o Etika, um restaurante japonês com o melhor sushi vegetariano que alguma vez provei, e ainda o Sirkus, também vegetariano, ambos no centro a capital.
6 – Onde fazer compras – Como estivemos em modo “road trip” e o quarto onde ficamos alojados tinha uma pequena cozinha, optámos por preparar algumas refeições. Os supermercados mais baratos do arquipélago são o Bonus (a mesma cadeia que existe na Islândia) e o FK.
7 – Onde procurar informação – O centro de informações turísticas na capital é um ótimo aliado durante a visita. São extremamente prestáveis e para além dos folhetos e mapas típicos de um centro de informações, foram inexcedíveis em informações sobre restaurantes vegetarianos, parques infantis e eventos a decorrer no momento.
Quem ficou com vontade de visitar este sítio magnífico?
4 Responses
Quantos dias são necessa´rios para conhecer a ilha?
Olá! Nós estivemos 1 semana e deu para conhecer quase tudo. Eu diria que 5 dias chegam especialmente se viajar sem crianças e for na primavera/verão quando os dias são enormes.
Adorei Saksun… 🙂 … tanto que fui uma vez e voltei… e também visitei Kalsoy apanhando o ferry em Klaksvik… aliás fiquei duas noites num apartamento em Klaksvik para poder explorar bem as Ilhas do Norte, que são maravilhosas… 🙂 Fomos em Julho e apanhámos quase dias de 24 h… as Faroé são um lugar único e inesquecível… 🙂 Continuação de boas viagens!
Que bom "conhecer" alguém que já foi às Faroé 🙂 Também espero um dia poder dizer que fui duas vezes 🙂 Beijinho!