Há muito, muito tempo, no ano de 641, um rei Tibetano, de sua graça Songtsen, casou com uma princesa chinesa chamada Wencheng. O dote da princesa incluía uma valiosíssima estátua indiana que representava Buda enquanto criança. Quando a estátua era transportada para a capital do Tibete, Lhasa, ficou presa na lama e nada nem ninguém a conseguiu tirar de lá.
A princesa chinesa teve então uma visão: o sucedido era causado por um enorme demónio fêmea (só podia) que estava deitada sobre grande parte do Tibete, com a perna esquerda já sobre o Butão e que tinha como objetivo maior impedir a propagação do budismo naqueles países. O rei esteve 18 anos a maturar aquela revelação e, em 659, decidiu avançar com o ambicioso projeto de construir 108 templos sobre os pontos nevrálgicos da demoniza e assim a prender para todo o sempre. O magnífico templo Kyichu Lhakhang, em Paro, é um desses 108 templos.
Por esse e por outros motivos o número 108 é sagrado para os budistas. Os rosários têm 108 missangas ou contas, algumas escolas de budismo defendem que há 108 sentidos, há 108 tentações terrenas a superar para atingir o nirvana, há 108 pontos de pressão no corpo e por aí fora…
Mas, são as 108 bandeiras de oração Manidhar que me prendem sempre a respiração e os passos. Há qualquer coisa de sublime na capacidade de transformar a feia morte em lindas bandeiras de oração brancas a ondular ao vento. Quando alguém morre no Butão, em sua homenagem, as bandeiras Manidhar são colocadas em paus na vertical. São depois dispostas sobre pontos estratégicos elevados e de onde se consiga avistar um rio. E assim, com o vento, as orações serão levadas até à água e chegarão ainda mais longe. Quem sabe, até ao infinito e mais além.